No Brasil, as primeiras empresas familiares foram impulsionadas no período do pós-guerra, pois diversos imigrantes se uniram para empreender, em diversas regiões do país, e sua força de trabalho dependia muitas vezes de seu próprio núcleo familiar.
Por esta razão, as empresas familiares estão plenamente enraizadas na cultura brasileira e são as maiores responsáveis de transmitir as riquezas de uma geração à outra; todavia, segundo aponta estimativa do Banco Mundial, somente 30% das empresas familiares, no mundo, chegam à 3ª geração e apenas metade delas (15%) passam à 4ª geração.
Diversos estudos apontam fatores similares para as causas desses números, dentre eles podemos citar algumas, que estão ligadas sobretudo aos aspectos interpessoais:
- centralização excessiva de poder nas mãos de poucos membros familiares, muitas vezes de uma pessoa só;
- dificuldade na separação entre decisões de cunho emocional x racional;
- sobreposição de tarefas, sem o melhor aproveitamento das habilidades de cada membro familiar, de modo a alcançar o melhor resultado ao grupo;
- a dificuldade de reconhecimento das próprias limitações pessoais;
- a ausência de um planejamento sucessório capaz de transmitir o comando da empresa para gestores bem treinados, sejam eles membros da família ou não.
É natural que a “geração fundadora” da companhia queira centralizar as decisões importantes em suas mãos. Porém, o que ocorre muitas vezes é que o próprio mercado em que a empresa está inserida se transforma, seja o próprio produto ou serviço em si ou a forma pela qual eles são oferecidos ao mercado; e os métodos aplicados pela empresa não acompanham essa transformação.
Isso acaba por impedir o crescimento da empresa – facilitando o surgimento de novos concorrentes – bem como o estabelecimento de boas práticas de Governança Corporativa e a própria transmissão do negócio às futuras gerações.
Como exemplo dessas práticas, podemos mencionar, por exemplo, o membro familiar se adequar às mesmas regras de conduta que um profissional contratado, ou de dividir as mesmas funções com ele, caso eles possuam as mesmas habilidades, prática que envolve atitudes de profissionalização e desapego entre os membros da família.
Passar a aceitar conselhos de profissionais nem sempre é uma tarefa fácil, pois requer humildade e o reconhecimento de que, muitas vezes, esse é o único caminho para que a empresa se mantenha competitiva no mercado em que atua.
Por outro lado, existem pontos altamente positivos nas empresas familiares, quando por exemplo, os membros estão dispostos a dividir tarefas, permitindo que a decisão de um não se sobreponha à decisão do outro, em assuntos em que um membro detém mais habilidade para exercer determinada função, principalmente quando os membros da família são organizados de maneira leal e dedicados aos mesmos objetivos.
Outra vantagem é a capacidade de concentração dos recursos “comuns” gerados pela companhia em momentos de dificuldade na mesma família, como por exemplo, em uma crise econômica conjuntural, o que permite que a empresa tenha acesso a crédito mais barato, se comparado a empresas que dependem exclusivamente de instituições financeiras para atravessarem por esses períodos.
Todavia, sem dúvida, uma das maiores dificuldades das empresas familiares é mediar conflitos entre as gerações seguintes, que um dia, necessariamente, terão que assumir o negócio.
Isso envolve rivalidades entre pais e filhos, irmãos, outros parentes e terceiros dirigentes, que muitas vezes passam a confundir conceitos de propriedade com gestão da empresa.
Deste modo, o processo de sucessão familiar nas empresas costuma ser demorado, pois requer um bom planejamento, uma vez que envolve questões complexas que devem estar em boa harmonia, de natureza administrativa, cultural e jurídica, dentre outras. Mas essa é uma decisão que deve partir principalmente das gerações mais velhas, que muitas vezes devem deixar de lado questões pessoais para o alcance de um bem maior, uma vez que esse planejamento permite não somente a continuidade e o crescimento da companhia, mas que seus ensinamentos sejam transmitidos às futuras gerações e sua força de seu trabalho não se perca em vão, gerando frutos não somente a seus próprios descendentes, mas também emprego e renda ao seu próprio país.